"Dante sabe nadar. Ari não. Dante é articulado e confiante.
Ari tem dificuldade com as palavras e duvida de si mesmo." |
As minhas leituras este ano aumentaram consideravelmente em comparação aos outros anos. Durante esta minha imersão no mundos ficcionais encontrei um livro que me deixou apaixonado, com os quatro pneus arriados, louco de felicidade e chorando com ou sem motivos. A história que o autor norte-americano, Benjamin Alire Sáenz, escreveu em "Aristóteles e Dante descobrem os Segredos do Universo" mexeu comigo.
É fácil citar os motivos que me levaram a gostar do enredo que envolve Ari e Dante. Mas acredito que o principal motivo foi a identificação com os personagens. (Ler algo e se identificar ou sentir-se representado faz uma grande diferença.) Não foi somente por eles serem gays. Foi além disso. Foi por me sentir igual a eles em certos momentos.
A história se passa na década de 1980 em El Paso, uma cidade do Texas, durante o verão. Aristóteles e Dante se conhecem no clube da cidade. Dante se oferece para dar aulas de natação para Ari que não saber nadar. Nem boiar. (Nesse momento rola a minha primeira identificação com o livro. TRÁGICO! hahahaha) A partir desse momento surge uma bela amizade entre eles. Entre aulas de natação e conversas sobre quem são e como se sentem podemos conhecer sobre cada um. Também percebemos o quanto a convivência entre ambos faz com que a amizade se fortaleça. Durante a leitura descobrimos que nem tudo é bonito na vida de Aristóteles. Ele tem um irmão preso e a família não gosta de tocar neste assunto. Ari, apesar de gostar do pai, não se sente próximo e nem consegue conversar com ele direito. Já a relação dele com a mãe é diferente. Eles se dão bem, conversam, riem e se entendem sempre. Menos quando o assunto é o irmão preso.
Já na família de Dante as coisas são mais tranquilas. Ou talvez menos problemáticas. O pai de Dante é professor universitário e a mãe é psicóloga. Dante tem uma relação maravilhosa com o pai. Eles são amigos, parceiros. Um consegue entender o outro. O mesmo não acontece com sua mãe. Dante afirma que ela é uma mulher impenetrável, além de super protetora.
Ao longo da história, Ari e Dante, que possuem apenas 15 anos, ficam mais próximos e juntos vão descobrindo quais são os segredos da vida, quais são as peculiaridades de serem adolescentes. As dores e as alegrias. As paixões e os ciúmes. O sentir a falta um do outro. O amor. O amadurecimento. Os novos sentimentos. A descoberta de um novo eu. Os garotos começam a entender que não é fácil ser alguém, mas ao longo da história vão percebem a importância da amizade, do amor e da família. Eles se dão conta que não existem só momentos alegres ou tristes. A vida é feita de uma mistura disso tudo. Sem contar as surpresas. A jornada de amadurecimento e conhecimento sobre a vida que vemos no livro é uma das coisas mais lindas de se ler, imaginar e sentir.
O engraçado é que eu não queria fazer uma resenha sobre o livro, mas escrever sobre o quanto ele mexeu comigo. Como ele me fez pensar, me fez sentir ser alguém. Queria relatar como foi a minha identificação. Portanto, não vou mais enrolar. Vou tentar em poucas palavras transmitir o que eu senti ao ler essa história maravilhosa.
Eu não me identifiquei só com o fato de Ari não saber nadar. Também me identifiquei com o fato dele não se sentir bem com ele mesmo em vários momentos da história, de não se aceitar, de ser fechado e meio longe da família. O Ari é na dele. Assim como eu. Hoje acredito que não tenho tantos problemas ou uma relação ruim com a minha família. Pelo menos acredito que não. No entanto sei que não é uma relação extremamente aberta e confortável. Grande parte disso é culpa minha. A situação ficou assim porque EU quis me esconder, me fechar. Acreditei que me escondendo, poderia também esconder quem realmente sou. Um alguém que perante a sociedade machista e preconceituosa é uma pessoa com atitudes e gostos errados. Para os mais extremistas sou até mesmo uma aberração. Assim como o Ari "eu me sentia pequeno, insignificante e inadequado" no mundo. Mas a minha relação com o mundo e família mudou muito, assim como mudou na vida de Ari. Sei que não é perfeito porque nada na vida é perfeito, mas já me deixam extremamente feliz. Agora, talvez, eu seja pequeno perante o universo.
Outra coisa me surpreende: eu também sou parecido com Dante. Não é sempre, mas acontece. Há momentos em que sou confiante, articulado, falador e acredito que posso fazer o impossível. A sensação é maravilhosa. Sei que ainda desisto das coisas facilmente e não sou tão corajoso quanto Dante, mas tenho progredido. Tenho certeza: a mudança depende mais de mim do que dos outros. Sei que preciso descobrir os meus segredos e mudar para melhor.
E... quem sabe... talvez eu seja uma junção de Ari e Dante. Vai saber...